quarta-feira, 31 de maio de 2017

BARRACOS de FAMÍLIA

A Maldição dos Primogênitos Bíblicos.

A partir da atitude de Caim, os primogênitos não tiveram boa acolhida nas páginas da Bíblia. O primogênito de Abraão foi Ismael, filho da egípcia Agar, serva de Sara. Mas o herdeiro de Abraão, que ficou com seus bens e sua descendência oficial foi Isaque. O primogênito de Isaque foi Esaú, mas Isaque abençoou o segundo filho, Jacó.

Rebeca, mulher de Isaque, deu a luz à Esaú e Jacó, que brigaram desde o ventre (!). Até na hora do parto, Jacó saiu com a mão agarrada no calcanhar do primogênito Esaú (!). Este se tornou exímio caçador, e Jacó, preguiçoso. Isaque amava mais a Esaú, e Rebeca amava mais Jacó, cuja personalidade fraca e desonesta se manifesta quando ele, se aproveitando do cansaço do irmão, propôs comprar a primogenitura por um prato de lentilhas e um pedaço de pão (!). E o pior foi que Esaú aceitou (!), Genesis 25:31-33.

O capítulo 27 narra a grande trapaça. Jacó e sua mãe se unem para enganar o velho Isaque e tirar a benção de Esaú para Jacó, a quem já temos uma certa medida de caráter do homem que mais tarde irá lutar com Deus e -- pásmem -- vencê-lo (!!!).

Até cobrem o corpo de Jacó com pelo de bicho para que pareça peludo e fedido como Esaú, para ludibriar o cego e tronxo Isaque (!), Gênesis 27:11-30. Jacó ainda usa o nome do Deus Javé de forma ardilosa (Gênesis 27:20) para enganar o próprio pai e receber a benção de primogenitura (!). Isaque abençoa Jacó assim: "Que Deus te dê o orvalho do céu e as gorduras da terra, trigo e vinho em abundância. Que os povos te sirvam, que as nações se prostrem diante de ti. Sê um senhor para teus irmãos, que se prostrem diante diante de ti os filhos de tua mãe..." Esaú passou a odiar Jacó; "Pela segunda vez Jacó me trapaceia", reclama o irmão (versículo 36), prometendo matá-lo.

"Abeçoa-me também, meu pai", implora Esaú. "Xá comigo!!",  despertou o inteligente pai, observe: "Longe das gorduras da terra será tua morada. Longe do orvalho que cai do céu. Tu viverás de tua espada (matança), e servirás a teu irmão (escravo do próprio irmão). Mas quando te libertares, sacudirás seu jugo de tua serviz", ou seja; Isaque -- inacreditavelmente ainda amaldiçoa o primogênito Esaú (!).

A história de Jacó é longa. Envolve várias absurdidades até sua morte. Desse modo fraudulento foi abençoado o homem que deu origem a Israel (!). Mas não posso me alongar e perder o foco desse texto.

Continuando; o primogênito de Jacó foi Ruben, que não teve importância na nascente nação israelita. O destaque foi para José, o penúltimo filho, aquele que instalou a escravidão do seu próprio povo, vendendo-o ao Faraó (!), Gênesis 47:8-25.

Ruben foi marcado por ter possuído Bala, uma das mulheres de seu pai, que soube e, o corno, nada fez (!), Gênesis 35:22.

Jacó (Israel) ao abençoar os filhos de José, cruzou as mãos, trocando a ordem de propósito e botou sua mão destra sobre a cabeça de Efraim que era o segundo filho, deixando assim de abençoar o primogênito, Manassés (!), Gênesis 48:14-19. Entretanto, José percebeu o erro e isso lhe desagradou. Ele tomou a mão de seu pai afim de desvià-la da cabeça de Efraim para a cabeça de Manassés, dizendo: "Não assim, pai, pois é este o mais velho". O já gagá Israel se recusou: "Eu sei meu filho. Seu filho mais moço será maior que o outro. Sua descendência se tornará uma multidão de nações" (!). Promessas nunca realizadas, como sempre.

O primogênito de Judá, Er, era mau aos olhos de Deus e por isso ele o matou (!), Gn 38:6. Tudo bem, pois no mesmo capítulo Javé mata também o irmão, Onã, por não obedecer a seguinte ordem de Judá: "Vá, possua a mulher do teu irmão e dê posteridade a ele". Mas Onã só gozava fora, desagradando Deus. Coitado!

No nascimento dos gêmeos de Tamar, Zera colocou o braço para fora primeiro, mas Perez passou à frente e saiu antes do irmão (!), Gênesis 38:28-30. Ele é o ancestral de Davi que, por sua vez é o ancestral de Jesus.

Mais adiante, na saga de Moisés, veremos Javé em plena atividade matando todos os primogênitos do Egito (!).

Arff!! Parece que, depois de Caim, ser primogênito passou a ser arriscado perante o Deus dos hebreus e perante os homens daquela confederação tribal.

Caim, após receber a maldição de Deus, que seria fugitivo e errante pela Terra, temeu que quem o encontrasse lhe tirasse a vida. Mas Caim não contava com a astúcia de Javé; "O Senhor lhe pôs um sinal para que não o ferissem de morte" (!). Que fofo!

Já para a relação entre Abraão e Isaque, não pode ter de nenhuma forma havido um final feliz; apenas a vivência traumática de uma tortura absurda. Para Isaque, o episódio com certeza fez com que se rompesse a confiança que um filho deposita na boa vontade de seu pai. E é de suspeitar que nunca mais, depois daquilo, Isaque conseguiu permanecer na presença de Abraão sem o temor e o tremor que sente alguém diante de um psicopata altamente perigoso, a ponto de deixar corados de vergonha esses fanáticos que, assim como Abraão, matam sem pestanejar, só por um capricho de um Deus (qualquer deus, que aparece do nada) borrifado de sangue o tempo todo, afim de satisfazer aquele egoísmo primitivo que ainda habita crânios dos irracionais.

A conclusão que cheguei é que realmente nosso cérebro é incrível, a ponto de acreditar em tais absurdidades como verdade. O cérebro humano é, sem usar de  metáforas, literalmente fantástico (desnecessário dizer que é no pior sentido).



Texto de Richard Hoffman

22-6-2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário