quinta-feira, 22 de junho de 2017

INSANIDADES JUDAICAS

Barbarizando a História (parte 5)

De modo paradoxal, a despeito dos manuscritos cristãos que registram a crença em Jesus na terra da Judeia, os textos indicam repetidamente que a crença em Javé não apareceu nem se desenvolveu no território que Deus designou para seus escolhidos. Surpreendentemente, os dois primeiros exemplos de teofania que desempenharam papel decisivo no estabelecimento da crença em um único Deus e lançaram as fundações do monoteísmo no hemisfério ocidental (civilização judeo-cristã-islâmica) tanto na teoria quanto na prática não ocorreram na terra de Canaã.

No primeiro exemplo, Deus apareceu em Aram, no que hoje é a Turquia, e emitiu as seguintes instruções para Abraão, o arameu: "Vai do teu país, dos teus parentes e da casa de teu pai para a terra que te mostrarei" (Gênesis 12:1). De fato, o primeiro seguidor de Javé abandonou sua pátria e embarcou em uma jornada para a Terra Prometida desconhecida. Devido a fome (pois nunca se "emanou leite e mel" daquelas terras) não ficou lá por muito tempo, e rapidamente mudou-se para uma terra habitada por um povo  organizado e poderoso, o Egito.

De acordo com o mito fundador, o segundo grande e dramático encontro aconteceu no deserto, durante o Êxodo do Egito. Javé teve contato direto com Moisés durante a entrega da Torá no monte Sinai. Além de suas instruções, mandamentos e conselhos, Deus também falou da Terra Prometida: "Veja, envio um anjo à sua frente para guardá-lo no caminho e levá-lo ao local que preparei... Quando meu anjo for à sua frente e o levar aos amorritas e aos hititas e aos periseus e aos cananeus, aos heveus e aos jebuseus, e eu os eliminarei" (Êxodo 23:20, 23). Embora os ouvintes já devessem saber que a terra não estava vazia, o compromisso divino agora contém uma promessa explícita de remover os habitantes originais que podem atrapalhar a colonização. Isto é, nem Abraão, o pai da nação, nem Moisés, seu primeiro grande profeta -- ambos os quais desfrutaram de um relacionamento íntimo e exclusivo com o Criador -- nasceram na terra; em vez disso, migraram para lá. Em vez de um mito autóctone louvando a antiguidade dos habitantes locais como uma expressão de sua propriedade da terra, a fé em Javé realçou repetidamente a origem estrangeira de seus fundadores e daqueles que estabeleceram a entidade política subsequente no lugar.

Moisés, Aarão e José -- que lideraram o povo para Canaã -- também nasceram (exceto José, que nasceu em Aram), ou foram educados e se transformaram em devotados de Javé no grande reino faraônico.

Como vimos, essa formação mitológica, anti-autóctane da "nação santa" fora da terra deve ser entendida em conjunto com outra dinâmica integrante. Não só os autores da Bíblia opõe-se aos habitantes da terra, como também expressam profunda hostilidade a eles repetidas vezes. Os autores dos textos bíblicos abominavam as tribos locais, de agricultores e adoradores de ídolos; passo a passo, eles assentam a fundação teológica para erradicação das tribos. Moisés, o antigo príncipe egípcio, reiterou a promessa de Deus em uma série de ocasiões. Em Deuteronômio, o profeta enfatizou repetidas vezes aos "filhos de Israel" que seu deus iria "liquidar as nações cuja terra o Senhor seu Deus está lhes dando" e que eles iriam "desapropriá-las e viver em suas cidades e em suas casas" (19:1).

Além disso, depois de dar instruções contendo uma abordagem moderada em relação aos habitantes não cananeus conquistados, Moisés enfatizou de novo: "Mas as cidades desses povos que o Senhor seu Deus está lhe dando como herança, vocês não devem deixar vivo nada que respire" (20:16).

"Eliminar", "liquidar" e tirar a vida de "qualquer coisa que respire" são imperativos claros, mas uma expressão também amplamente usada ao longo de toda a Bíblia para indicar a erradicação geral dos habitantes da terra e "destruir completamente, sem piedade". De fato, de acordo com a lenda bíblica, o extermínio físico da população local (em vez de Javé optar por convertê-los, como fez com Abraão) começa imediatamente após as tribos de Israel cruzarem o rio Jordão e entrarem na Terra Prometida, na sequência da conquista de Jericó. Foi quando "eles destruíram completamente tudo na cidade com a espada -- todo homem e mulher, tanto jovem quanto criança de peito, velho, e todo boi, ovelha e jumento" (Josué 6:21), prática que repetiram após a queda de todas as outras cidades. Conforme está escrito: "Josué conquistou toda a região... o Neguev, os sopés da Judeia e as encostas -- com todos os seus reis, sem deixar sobreviventes. Ele destruiu completamente todos os seres vivos, como o Senhor, o Deus de Israel, havia ordenado" (Josué 10:40). A conquista terminou com uma farra de saques e derramamento de sangue geral: "E todo o episódio dessas cidades e gado o povo de Israel tomou como pilhagem. Mas todas as pessoas eles atingiram com o fio da espada até terem destruído, e não deixaram nada que respirasse" (Josué 11:14).

Depois do assassinato em massa, o exército dos conquistadores ficou um tanto pacificado, e o "povo" nascido no Egito separou-se em tribos de novo, dividindo-se entre várias regiões da terra. Agora, a "Terra" era maior do que Deus havia prometido a Moisés, subitamente incorporando também o outro lado do rio Jordão. Duas tribos e meia assentaram-se a leste do rio, marcando o início de sua história local na Terra Prometida, que, conforme observado, era maior que a terra de Canaã.

A Bíblia reconta essa história em detalhes e com grande imaginação, e está repleta de denúncias dos pecados repetidos que levaram à punição final do exílio duplo: o exílio dos habitantes do reino de Israel para a Assíria (no século VIII A.E.C.). Muito da narrativa recriando as histórias dos hebreus na terra de Canaã busca esclarecer os fatores que resultaram nesses exílios traumáticos. 

Isso levanta uma série de questões para historiadores e estudiosos bíblicos que não acreditam na sacralidade divina dos livros nem aceitam a cronologia anacrônica e insustentável dos eventos: 

1-- Por que os autores dos textos antigos enfatizam repetidamente a revelação da deidade em locais fora da Terra Prometida?

2 -- Por que a maioria dos heróis dessa epopéia fascinante não são de descendência autóctone?

3 -- A que propósito serviu o cultivo de ódio ardente contra a população nativa e por que, antes de tudo, essa história de extermínio em massa, perturbadora e estranha por todas as as avaliações é contada?

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