quinta-feira, 22 de junho de 2017

INSANIDADES JUDAICAS

Barbarizando a História (parte 4)

A lenda do deslocamento em massa dos judeus pelos romanos está relacionada ao exílio babilônico citado na Bíblia. Entretanto, também possui fontes cristãs, e parece ter se originado com a profecia punitiva articulada por Jesus no Novo Testamento: "Haverá grande aflição na terra e ira contra o povo. Eles vão cair pela espada e serão levados como prisioneiros para todas as nações" (Lucas 21:23-4). 
                      
A história pode ser irônica, particularmente a respeito da invenção de tradições em geral e em especial de tradições de linguagem. Pouca gente notou ou está disposta a reconhecer, que a Terra de Israel dos textos bíblicos não inclui Jerusalém, Hebron, Belém ou suas áreas vizinhas, mas apenas Samaria e algumas regiões adjacentes -- em outras palavras, a terra do reino setentrional de Israel.

Como nunca existiu um reino unido que abrangesse a Judeia e Israel antigos, nunca surgiu um nome hebraico unificado para tal território. Como resultado, todos os textos bíblicos empregaram o mesmo nome faraônico para a região: terra de Canaã. No livro de Gênesis, Deus faz a seguinte promessa a Abraão, o primeiro a se converter ao judaísmo: "E eu darei a você e a sua descendência depois de você a terra de suas peregrinações, toda a terra de Canaã, como uma propriedade eterna" (17:8). E, no mesmo tom encorajador e paternal, mais tarde ele ordena a Moisés: "Suba essa montanha do Abarim, o monte Nebo, que está na terra de Moabe, em frente a Jericó, e veja a terra de Canaã" (Deuteronômio 32:49). Dessa maneira, o nome popular aparece em 57 versos.

Jerusalém, em contraste, sempre foi situada dentro da terra da Judeia, e essa designação geopolítica, que se enraizou como resultado do estabelecimento do pequeno reino da Casa de Davi, aparece em 24 ocasiões. Nenhum dos autores dos livros da Bíblia jamais sonhou em chamar o território em torno da cidade de Deus de "Terra de Israel".

Por esse motivo, Segunda Crônicas reconta: "Ele (Josias) andou por toda a Terra de Israel, derrubando os altares, os postes da deusa Asherah e outros ídolos, esmigalhando-os até virarem pó e quebrando todos os altares de incenso. Então ele voltou para Jerusalém" (34:7). A terra de Israel, conhecida por ter sido o lar de mais pecadores que a terra da Judeia, aparece em 11 versos adicionais, a maioria com conotações nada lisonjeiras. Por fim, a concepção espacial básica articulada pelos autores da Bíblia é compatível com outras fontes do período antigo. Em nenhum texto ou descoberta arqueológica encontramos a expressão "Terra de Israel" usada para se referir a uma região geográfica definida.

Essa generalização também se aplica ao período histórico estendido conhecido na historiografia israelense como período do Segundo Templo. De acordo com todas as fontes textuais à nossa disposição, nem a bem-sucedida revolta asmoniana de 167-160 A.E.C., nem a fracassada rebelião zelote de 66-73 E.C. ocorreram na "Terra de Israel". É inútil procurar a expressão em 1 ou 2 Macabeus ou outros livros não canônicos, nos ensaios filosóficos de Fílon de Alexandria ou nos escritos históricos de Flávio Josefo. Durante os muitos anos em que existiu algum tipo de reino judeu -- quer soberano ou sob a proteção de outros --, esse nome jamais foi usado para se referir ao território entre o mar Mediterrâneo e rio Jordão. Poucos israelenses estão cientes de que Davi, filho de Jessé, e o rei Josias governaram um lugar conhecido como Canaã ou Judeia, e que o suicídio em grupo de Massada não ocorreu na Terra de Israel. 

Esse passado semântico problemático, contudo, não incomodou os acadêmicos israelenses, que reproduziram esse anacronismo linguístico regularmente, sem se deter ou hesitar.
                     
Assim como o "povo judeu" é considerado um Ethos eterno, a "Terra de Israel" é vista como uma essência, tão imutável quanto seu nome. Em todas as interpretações a respeito da Bíblia e dos textos do período do Segundo Templo nos livros citados, a Terra de Israel é retratada como um território definido, estável e reconhecido.

Esse mito geopolítico mostrou-se tão predominante em anos recentes que os editores das obras de Flávio Josefo ousaram até incorporar a expressão "Terra de Israel" à tradução dos textos(!).

Na verdade, como um dos muitos nomes da região -- alguns dos quais não são menos aceitos na tradição judaica, como Terra Santa, terra de Canaã, terra de Sião ou terra da Gazela -- a expressão "Terra de Israel" foi uma invenção cristã e rabínica posterior de natureza teológica e de forma alguma política. De fato, podemos postular, com cautela, que o nome apareceu pela primeira vez no Novo Testamento, no Evangelho de Mateus.

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