quinta-feira, 13 de abril de 2017

O DIABO QUE TE CARREGUE
Capítulo 8

A Invenção da Personificação do MAL

Num texto como este, é indispensável o auxílio, não só de bons livros relacionados, de autores reconhecidamente sérios, como também uma boa tradução da Bíblia para o Português. Em todos os casos, as citações bíblicas, no corpo do texto vêm da Bíblia de Jerusalém (edição de 2002, nona reimpressão feita em 2013), publicada pela editora Paulus. A Bíblia de Jerusalém é sempre a preferida pelos estudiosos sérios, em razão das suas características doutas amplamente reconhecidas.

Apesar de inútil, a história da "Tentação no Deserto" (somente em Mateus 4!), deve ser lembrada neste texto pela importância do contexto teológico cristão. Ela coloca cara a cara o "Príncipe da Paz" e o "Príncipe do Mal"; Jesus versus Satanás/Diabo. Lá se diz que Jesus foi elevado ao deserto pelo Espírito Santo, com a única finalidade: de que Satanás aparecesse para tentá-o. Bom, essa história você também já está careca de saber, porém, o que nos interessa aqui é como o Messias trata o príncipe do mal.

Mateus 4 parece contestar tudo o que eu acabei de explanar sobre o fato da palavra Satanás ser usada como um artigo, e não como um pronome. Jesus é tentado pelo "diabo"(exatamente assim, na Bíblia de Jerusalém com "d" minúsculo). E no versículo 10 Jesus diz a esse diabo "Vai-te, Satanás", com "S" maiúsculo, como se "diabo" fosse um artigo e "Satanás" um pronome. Parece confuso, mas ainda no capítulo 16:23 de Mateus e em Marcos 8:33, Jesus usa o pronome Satanás como um artigo, ao xingar o apóstolo Pedro.

Dentre várias estorietas inúteis na Bíblia envolvendo Jesus, vou citar mais duas envolvendo "seres sobrenaturais malignos", para não fugir do tema. Você, leitor, pode me ajudar a entender qual o significado dessa estória de Maria Madalena e seus sete demônios? E o que há de tão extraordinário em Jesus atender ao pedido de uma "legião de demônios" (rogando!) para adentrarem em dois mil porcos, que se precipitaram montanha abaixo, ao mar? Eu, hein!? Não ria, não ria!

Nós humanos somos apaixonados por símbolos e imagens. Isto está arqueologicamente comprovado nos desenhos rupestres, feitas à dezenas de milhares de anos encontrados em várias cavernas, principalmente na França, mas também em outros países. E a imagem do mal, o Diabo, com características familiares, como chifres, rabo, etc., se fez no século XIII em diante. Todo tipo de arte foi usado, tanto para as histórias bíblicas de deuses, de messias (principalmente Jesus, lindo, loiro, olhos claros e, pásmem, com roupas romanas!), como em fábulas em geral. Muito diferente com o que fizeram parecer as características do Diabo, evidentemente, mas fizeram.

Dante Alighieri (1265-1321) lança seu livro-legado "A Divina Comédia", história dividida em três partes; "Inferno", "Purgatório" e "Paraíso", reafirmando a ideia de uma real imagem do inferno nas cabeças da sociedade ocidental.

O Demônio do Ocidente foi essencial para a Santa Inquisição e a Caça às Bruxas entre os séculos XV e XIX, prática religiosa que tem como estimativa a morte de mais de 100 mil pessoas. Em 1486 dois monges dominicanos alemães produziram o mais imfame (se você não considerar a Bíblia) livro-manual de tortura até a morte daqueles "endemoniados", hereges, infiéis etc.


Aliás, ainda hoje mata-se muito mais em nome do Deus bíblico, mata-se muito mais em nome de Maomé e até mesmo mata-se muito mais em nome de Jesus do que em nome do Diabo. Os homens nunca fazem o mal tão plenamente e com tão entusiasmo como quando fazem por convicção religiosa. Isso é histórico. Existem, por exemplo, dezenas de museus dá Santa Inquisição Católica espalhadas pelo mundo afora, inclusive tem uma no Brasil; claro que não poderíamos ficar de fora dessa, não é?

RICHARD HOFFMAN

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